Rio Curimataú: histórias e lendas
Lendas a parte, o Curimataú marcou de forma importante e inesquecivel a vida dos novacruzenses, prestando enorme contribuição à cidade em tempos de seca quando Nova Cruz não contava ainda com o sistema de abastecimento d'água encanada. Era em seu leito vazio, no verão, que cavavam-se pequenas cacimbas onde era coletada a água, que permanecia no subsolo,e vendida pela cidade em pequenos barris de madeira sobre o lombo de burricos para ser utilizada na limpeza doméstica. No inicio do inverno, após as primeira chuvas, o rio Curimataú dava seu espetáculo, atraindo a populaçãoàs suas margens para monitorar o nivel de suas águas. Usando da "tecnologia" de que dispunha na época: fincavam um pedaço de galho de árvore (graveto), rente ao nível da água de forma a perceber se com o passar de minutos o nível subia, atingindo o o graveto, ou descia,dele se afastando. Durante o dia ou a noite, a população da cidade se movimentava, observavando o rio, instalada na ponte Régis Bittencourt que lhe servia como camarote. E o Curimataú dava seu espetáculo! Ora barulhento através do ronco de seus rodamoinhos, dos troncos de árvores que passavam boiando sob a ponte, prova de sua fúria , ora interagindo com a juventude afoita que sob aclamação de uns e recriminação de outros, não resistia em demonstrar coragem, usando a varanda da ponte como trampolim para darem espetaculares "saltos mortais" sobre suas águas. Mas a fama histórica do Curimataú vem de suas enchentes:
1924 - O Curimataú transborda e atinge a parte baixa da cidade, antiga rua do Sapo. Como consequência dessa "visita", leva consigo o primeiro cemitério de Nova Cruz.Em homenagem a data, cria-se a rua 18 de Abril, local para onde migraram e cuja maioria fixou residência, os moradores da rua do Sapo que por sua vez viu o nome da rua mudado para rua Campo Santo.
1964 - Quarenta anos depois, o Curimataú volta furioso a inundar Nova Cruz. Dessa vez vem acompanhado pelo rio Bujari que em perfeita sincronia, sofre enchente simultânea a de seu companheiro, visitando as ruas Diógenes da Cunha Lima, Dr. Pedro Velho, trav. Arruda Câmara, rua 15 de Novembro, rua José Abdon, parte de Rua Getúlio Vargas e rua Frei Alberto Cabral. Em sua outra margem, ele atinge parte do Alto de Santa Luzia e o Posto Agropecuário onde hoje é o NESA. As consequências dessa segunda "visita" é a queda do muro do atual cemitério e as cabeceiras da ponte Régis Bittencourt isolando, temporariamente, Nova Cruz da capital do Estado.
2004 - Confirmando as espectativas, o Curimataú dá o ar de sua graça quarenta anos depois. Dessa vez veio sem grandes alardes; talvez por vir sozinho...talvez defasado por desvios e barragens ao longo de seu curso, ele visitou apenas sua velha conhecida e companheira de guerra, a rua Campo Santo.
E em 2044, haverá um Curimataú a "visitar" Nova Cruz outra vez? Quem viver...
Fonte e texto: Ilvaita Maria Costa